Poesias

A GRAÇA

A Graça é que funda o coração humano,
e o germina de frutos pressentidos, e prospera,
mais que o pranto, sobre a pedra, o bom desejo.

A Graça é centelha sem fogo, e de sonho afoito
abre asas do chão como pétalas ao sol, e no vôo derrama
sobre nós o leite ancestral, a plenitude, a primeira
revelação.

A Graça é que concerta o desconserto do homem,
e não há fazer sem padecer. A paixão é fêmea e macho,
o mesmo sangue de contrários: luta das coisas com
outras coisas.

A Graça é a permanência que sempre espera mais além
do tempo, ou antes, ao fim de nossa fuga, o novo início.
Não veio do ontem, não vai para o amanhã:
é eterna sendo agora.

A Graça é uma casa aberta onde não se contam as horas,
e o tempo é memória do futuro. Se não houve a Queda,
não haverá o Juízo Final, e nada foi expulso do Paraíso,
nem a dor.

Das mesmas águas da Graça bebem a águia e o cordeiro,
o anjo e o demônio, o homem e a razão.
Nelas chegam cansados,
e partem com suas botinas profanas e sandálias sagradas.


05/07/2011

 

 

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